TEXTO BÁSICO: Mt 28.1-10
TEXTO DEVOCIONAL: Sl 33.6 Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua boca.
Introdução: Como vimos na lição anterior, antes da criação do homem, Deus criou os anjos dando-lhes personalidade, inteligência e responsabilidade moral. Porém, a despeito da similaridade moral e espiritual com o homem, também vimos que os anjos possuem algumas características peculiares. Assim, ao estudarmos a angelologia, precisamos nos deter em textos e comentários exegéticos que apontam a natureza dos anjos, para podermos entender suas atividades. Desta forma, na lição de hoje pretendemos observar alguns pontos que ficaram meios que dispersos na lição passada e que precisam ser desenvolvidas.
I.QUEM E COMO SÃO OS ANJOS. Salmos 148.2,5 Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos... Que louvem o nome do SENHOR, pois mandou, e logo foram criados.
No princípio de todas as coisas, antes da criação do mundo físico, como vimos, Deus criou os anjos. A expressão “exército do céu”, dependendo do contexto, pode ter duas interpretações. Em Gn 2.1 e Ne 9.6, refere-se aos astros físicos do espaço sideral; porém, em outros textos como (Sl 148.2,5; Cl 1.16; SI 103.20,21) parecem fazer referência direta aos anjos. É, porém, impossível fixar o tempo em que foram criados os anjos, mas a resposta de Deus a Jó declara que eles foram criados antes de todas as outras coisas (Jó 38.4,7). Os corpos espirituais dos anjos não possuem limitações físicas, por isso a “lei da gravidade” não exerce qualquer influência ou poder sobre eles. Pela falta de gravidade de seus corpos espirituais, os anjos podem locomover-se de um lugar para outro com extrema rapidez. Por serem superiores à matéria, os anjos podem tomar forma humana para se fazerem percetíveis aos sentidos físicos do homem, se houver necessidade. Várias aparições de anjos feitas a Abraão, Ló, Jacó, Josué, Pedro e Paulo são exemplos indiscutíveis da Bíblia (Gn 18.1-10). Ainda em nosso tempo os anjos aparecem aos servos de Deus na terra. O salmista os descreveu como “valorosos em poder” que executam as ordens de Deus e lhe obedecem (SI 103.20). Quando os pais de Sansão levantaram um altar ao Senhor, um anjo desceu sobre as chamas do altar sem sofrer qualquer dano (Jz 13.19,20). Um só anjo matou a 185 mil soldados do exército assírio (Is 37.36), Um só anjo destruiu com fogo as cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 19). Um só anjo removeu a pedra do sepulcro onde Jesus foi sepultado, quando se exigia vários homens para remover aquela enorme pedra (Mt 28.2). Embora os anjos tenham poderes, eles são limitados (2Sm 24.16; Ap 18.1,2; Gn 19.13). Na experiência com os homens, os anjos falam, orientam, ouvem e determinam. A Bíblia dá a entender que os anjos possuem uma inteligência superior à dos homens, mas não igual ou superior à de Deus (2Sm 14.20; 1Pe 1.12). Dotados de sentimentos, os anjos podem experimentar emoções quando rendem cultos a Deus (Sl 148.2). Eles conhecem suas limitações e se contentam com tudo o que fazem e podem fazer (Mt 24.36). Os anjos são espíritos imortais (Lc 20.34-36). Significa que eles não estão sujeitos à dissolução, ou putrefação orgânica, visto que seus corpos são imateriais. A imortalidade deriva da pura espiritualidade.
II. CARACTERÍSTICAS DOS ANJOS. At 10.22 E eles disseram: Cornélio, o centurião, varão justo e temente a Deus e que tem bom testemunho de toda a nação dos judeus, foi avisado por um santo anjo para que te chamasse a sua casa e ouvisse as tuas palavras. O Senhor deu aos anjos conhecimento, poder e mobilidade mais elevadas do que aos homens. Por esses elementos, descobrimos algumas características especiais capazes de fazer-nos compreender alguns aspéctos da revelação bíblica e das ralações pessoais com os homens.
1. SANTIDADE. MC 8.38 Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos. No Apocalipse, os anjos são identificados como santos. Isto implica em que eles foram colocados em um estado eterno de santidade (Ap 14.10). Outros textos das Escrituras os identificam como “santos” (Mt 25.31; Lc 9.26) para distingui-los dos anjos caídos Jo 8.44 e 1Jo 3.8-10.
2. REVERÊNCIA. SL 103.20 Bendizei ao SENHOR, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra. Uma das características principais das atividades angelicais é o louvor e a adoração (Sl 29.1,2; 89.7;148.2). Jesus declarou que os anjos de Deus sempre estão na presença do Pai e vêm a sua face (Mt 18.10). De modo geral, todos os anjos de Deus o louvam e o adoram, mas, biblicamente parece haver uma classe específica das hostes angelicais cuja função principal é louvar e adorar a Deus; são os “serafins”. Essa classe de anjos permanece ao redor do trono como servos do Todo-poderoso, para executarem a sua vontade (Is 6.3). Reverência é respeito e veneração marcado pelo temor. Esse temor não é medo, mas significa reconhecimento do poder superior de Deus.
3. SERVIÇO. Hb 1.14 Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?
O autor da Epístola aos Hebreus denomina os anjos de “espíritos ministradores” (Hb 1.14), indicando que eles exercem serviços especiais aos interesses do Reino de Deus:
· Os anjos executam a vontade de Deus. O próprio sentido da palavra “anjo” é mensageiro. Portanto, é função precípua dos anjos servir aos interesses de Deus, obedecendo-lhe em toda a sua soberana vontade. Mais uma vez o autor de Hebreus indica essa função angélica de serviço quando diz: “Ainda quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos e a seus ministros labaredas de fogo” Hb 1.7. O escritor sagrado os destaca como “ministros” para identificar o serviço que prestam a Deus em favor dos santos em Cristo.
· Os anjos cuidam e protegem os fiéis. Há um texto nos Salmos que declara que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” Sl 34.7. Elias, ameaçado de morte pela rainha Jezabel, mulher de Acabe, precisou fugir da cidade para escapar com vida. Elias fugiu para o deserto e assentou-se debaixo de uma pequena árvore chamada zimbro. Estava triste e decepcionado, por isso, pediu a morte. Deitado debaixo daquele zimbro veio um anjo da parte de Deus e o tocou e lhe disse: “Levanta-te e come”. E olhou, e eis que à cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água; e comeu, e bebeu e tomou a deitar-se. E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e tocou-o, e disse: “Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho” 1Rs 19.5-7.
· Os anjos punem os inimigos de Deus. Os inimigos de Deus agem de muitas maneiras, mas nada passa despercebido pelo Senhor. Houve um rei da Assíria, chamado Senaqueribe, que desafiou ao Deus de Ezequias, rei de Judá. Imediatamente Deus enviou um anjo poderoso o qual destruiu o exército assírio de 185 mil soldados. Para preservar o seu povo e o seu nome, Deus puniu aqueles inimigos 2Rs.19.35 Sucedeu, pois, que naquela mesma noite, saiu o anjo do SENHOR e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram corpos mortos. No período dos juízos finais da história da humanidade, os anjos serão os emissários de Deus para executarem o seu juízo contra aqueles que rejeitam a Jesus como Salvador do mundo e se constituem, em inimigos declarados do soberano. Senhor Mt13.50 E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.
III. A ORGANIZAÇÃO ANGELICAL.
A organização angelical abrange as várias categorias ou classes de anjos. A semelhança das organizações políticas existentes no mundo, com graduações e poderes maiores e menores, as cortes angelicais também possuem a sua hierarquia.
1- HIERARQUIA DOS ANJOS. 1Sm 4.4 Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca do concerto do SENHOR dos Exércitos, que habita entre os querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a arca do concerto de Deus.
A Bíblia dá a entender que os anjos de Deus se acham organizados de forma hierárquica, isto é, numa forma de graduação, de autoridade. Essa graduação é destacada pelo tipo de atividade que os anjos exercem em todo o Universo e na presença de Deus.
· Arcanjo. A palavra arcanjo representa a mais elevada posição na hierarquia angelical. O prefixo “arc”, do grego “arch”, sugere tratar-se de um chefe, um príncipe, um primeiro ministro. Entre os livros apócrifos, existe o livro de Enoque, que apresenta sete arcanjos, a saber: Uriel, Rafael, Raquel, Saracael, Miguel, Gabriel e Remiel. Mas o único nome dessa lista que aparece nos livros canónicos da Bíblia que usamos é o do arcanjo Miguel (Jd 9). Esse arcanjo se destaca biblicamente como uma espécie de administrador e protetor dos interesses divinos em relação a Israel (Jd 9; Dn 12.1). O arcanjo Miguel é denominado “príncipe dos filhos de Israel” porque é o guardião dessa nação. Na visão apocalíptica e escatológica (futura) que João teve na Ilha de Pátmos, o arcanjo Miguel é visto como o grande comandante dos exércitos celestiais contra as milícias satânicas, representadas pelo dragão, símbolo de Satanás (Ap 12.7-12).
· Querubins. Essa classe de anjos criados por Deus se destaca pela ligação que eles têm com o trono de Deus. A palavra querubim, no original hebraico “querub”, tem o sentido de guardar, cobrir. Eles aparecem pela primeira vez na Bíblia em Gn 3.24 no Jardim do Éden para guardar a entrada oriental a fim de que o homem que havia pecado contra o seu Criador não tivesse acesso ao caminho da árvore da vida. O que aprendemos acerca dos querubins é que eles possuem uma posição elevada na corte celestial e estão diretamente ligados ao trono de Deus (1Sm 4.4; 2Rs 19.15; Sl 80.1;99.1; Is 37.16). Em Ez 10, os querubins aparecem cheios de olhos e o trono de Deus está acima deles. A ligação dos querubins com o trono de Deus nos ensina que eles guardam o acesso à presença de Deus. Só nos é possível entrar no Santo dos Santos ou “Lugar Santíssimo” com o sangue da aliança em nossas vidas (Hb 10.19-22).
· Serafins. O vocábulo serafim deriva do hebraico “saraph” e significa ardente, refulgente ou brilhante, nobre ou afogueados. Esta classe de anjos aparece uma só vez na Bíblia em Is 6.1-3. Nesta escritura, os serafins estão intimamente ligados ao serviço de oração e louvor ao Senhor. Nesse serviço, eles promovem, proclamam e mantêm a santidade de Deus. Na visão de Isaías, os serafins são representados como tendo seis asas. As asas tinham funções específicas. Com duas asas criam o rosto, numa atitude de reverência perante o Senhor. Com as outras duas cobriam os pés, falando de santidade no andar diante de Deus, e com as duas últimas, eles voavam. Essa visão de seres alados não significa que todos os anjos, obrigatoriamente, têm de ter asas. As asas desses serafins tinham por objetivo mostrar ao profeta a capacidade de movimento e locomoção dos anjos para realizarem a vontade de Deus. É uma forma materializada que os seres espirituais usam para serem compreendidos, porque, de fato, os anjos são incorpóreos.
2. CLASSIFICAÇÃO GENÉRICA DOS ANJOS. Cl 1.16 porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.
Denominamos “classificação genérica” porque entendemos que dentro da ordem apresentada em Rm 8.38 e Cl l.16, o apóstolo Paulo não quis dogmatizar a ordem angelical segundo o seu entendimento. De fato, o seu interesse foi o de tornar mais clara a compreensão sobre as várias classes angelicais. Outro fato importante é que algumas das classes apresentadas como arcanjos, querubins e serafins se confundem dentro dos títulos apresentados por Paulo. Os teólogos antigos tentaram classificar os anjos reunindo todas as graduações. O teólogo Dionísio, areopagita, apresentava três classes de anjos:
· Tronos, querubins e serafins, como pertencentes a uma classe ligada diretamente ao trono de Deus.
· Poderes, domínios e potestades.
· Principados, arcanjos e anjos comuns.
Entretanto, essa classificação não tem respaldo bíblico, dada a diversidade das várias ordens angelicais. Apresentaremos uma classificação segundo a ordem dos textos de Cl 1.16 e Rm 8.38, sem nos preocuparmos com uma ordem definitiva
1. Tronos (Cl 1.16). Conforme está no original grego, “thronoi” tem um sentido especial porque se refere a uma classe de anjos que está diretamente ligada à majestade e soberania de Deus. E possível que os querubins estejam diretamente ligados a esse tipo de atividade real, pois alguns textos identificam os querubins com os seres sobre os quais Deus está assentado e reinando (1Sm 4.4; 2Rs 19.14; Sl 80.1; 99.1).É interessante fazer uma ligação tipológica dos “anjos-tronos” com os “carros” nos quais Deus anda e ostenta sua glória no Universo (Sl 68.17). Também encontramos essa mesma linguagem figurada acerca dos anjos comparando-os e tipificando-os “aos carros de salvação” e ainda destaca o Senhor “montado sobre cavalos” (Hc 3.8). Não há nenhum tom negativo ou humilhante nessa tipologia sobre anjos como cavalos, porque na mente antiga, os cavalos são símbolos de força e serviço.
2. Domínios (C11.l6). Em algumas versões, o termo grego “kuriothes” ou “kuriotethoi” tem o sentido de soberanias ou dominações (Ef 1.21). A classe especial de anjos dominadores tem como função principal executar as ordens de Deus sobre as coisas criadas. Paulo diz que esses anjos executam as ordens divinas sob a autoridade de Cristo, Subentende-se pelo contexto doutrinário do papel dos anjos, que essa classe denominada dominadores age de forma executiva sobre o Universo e sobre determinadas esferas espirituais.
3. Principado. (Cl 1.16). Mais uma vez aquelas categorias especiais dos querubins e serafins se confundem com essas classificações de tronos, domínios, principados e potestades. Por isso, é difícil estabelecer uma ordem específica; porém, o que está revelado acerca dessas classes de anjos nos é suficiente para entender a sua importância e o seu ministério. A palavra principados no grego bíblico é “archai”, e refere-se a uma classe de anjo que têm poderes de príncipes. Nos reinos terrestres, os principados regem sobre territórios pertencentes ao reino. Podemos ver isto na história de Lúcifer, o qual havia sido estabelecido como “querubim ungido para proteger” e estava no monte santo antes de sua queda. Ao mesmo tempo, parece-nos que sua posição de “querubim” é fortalecida e acrescida por outra posição de “principado”. Supõe-se que ele governava o planeta na posição de “principado”, e só perdeu essa posição quando se rebelou contra o Criador e Senhor (Is 14.13; Ez 28.16; Ap 12.9). Devemos também considerar um outro “príncipe” chamado Miguel, referido na Bíblia como “um dos primeiros príncipes” de Deus. (Dn 10.13).
4. Potestades (Cl 1.16). Potestades referem-se a anjos especiais que executam tarefas especiais da parte de Deus. Não se trata de poderes angelicais isolados, mas são chamados “potestades” porque foram investidos dê uma autoridade especial. Vários exemplos se destacam na Bíblia das ações poderosas dessa classe de anjos. Um destes anjos foi enviado por Deus para destruir a cidade de Jerusalém e só parou sua destruição quando Deus lhe ordenou que guardasse a sua espada (1Cr 21.15-27). O salmista Davi destaca anjos que são “magníficos poder” (Sl 103.20). Isto revela que esses anjos pertencem a uma classe de seres poderosos, mas não onipotentes. A onipotência é atributo único do Deus Trino, por isso, nenhuma criatura jamais teve nem terá poderes totais. A magnitude do poder dessas potestades se limita ao nível da capacitação dada por Deus para o cumprimento de suas obrigações.
CONTINUA...
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