terça-feira, 3 de abril de 2018

DINHEIRO NA IGREJA, PARA QUEM, E PARA O QUE?

"Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade."
At 4:34-35

Este é um tema que na minha opinião, se tornou um dos mais controversos e perigosos de se tratar na igreja. Dinheiro! Entro neste tema pela infeliz percepção de que, em nossos dias, o dinheiro, ou melhor, o ato de pedir dinheiro, vem ocupando grande espaço do tempo no culto que deveria ser oferecido exclusivamente ao Senhor Deus. A percepção é que o ato de pedir dinheiro tornou-se, por assim dizer, uma espécie de "carro chefe" em muitas pregações nos púlpitos que conhecemos, isto porque grande parte da liderança considerada evangélica, adotaram este ato como ponto central do que costumam  chamar de "ato de confiança ou fé" .

Não posso, e não vou negar a importância dos dízimos e das ofertas alçadas para a manutenção da igreja, porém também não posso negar o infeliz rumo que este tema, apoiado por uma teologia enganosa, tomou.  Colocaram o antigo espaço que conhecemos como "ofertório" em um lugar que deveria ser ocupado exclusivamente pela explanação da Palavra Deus. É, para piorar, usam textos desconexos para confundir os menos avisados. Chego mesmo a ter dúvidas diante de tamanha exposição que fazem da obrigatoriedade da entrega do dinheiro, pois de forma enganosa colocam tal ato como sendo a própria evidência da adoração. Minha dúvida e pergunta é: Adoração a quem? Ou adoração a o quê?

I. CONTRIBUIÇÕES VOLUNTÁRIAS. 
Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.
2Co 9:7

O Novo Testamento fala sim em contribuições em dinheiro, mas o que o escritor faz questão de enfatizar é que tal atitude deve ser sempre voluntária, e nunca feita por qualquer tipo de imposição, de quem quer que seja. Também não encontramos nenhum tipo de citação que envolva qualquer porcentagem a ser estipulada para essas contribuições, o valor, segundo o escritor Bíblico, deveria ser conforme a proposta do coração do ofertante. Assim, todo o dinheiro entregue a igreja era sempre baseada na prosperidade dos crentes e não a gosto dos líderes ou pedintes. Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for. 1Co 16:1-2. 

E tem mais, todo o dinheiro arrecadado tinha por finalidade ser utilizado prioritariamente para suprir as necessidades dos membros, e não para ostentar prazeres ou desejos da liderança. O ensino Paulino era patente: Os cristãos deveriam contribuir de forma voluntaria e com alegria, e não havia nenhum suposto demônio com poder de conduzir a extrema pobreza quem não quisesse contribuir. Afinal ser voluntário diz respeito à fazer por vontade própria e não por medo de demônios devoradores. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.
At 4.34-35

Em alguns casos excepcionais, tal como a severa fome que aconteceu na Judéia, as igrejas mais pobre, recebiam assistência financeira das igrejas mais prósperas de outros lugares. De onde provinha este dinheiro? Da ofertas voluntarias. Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia, e, apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual sobreveio nos dias de Cláudio. Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo. 
At 11:27-30

É bom observar que apesar de toda a necessidade que envolvia as circunstâncias, ninguém deu o que não tinha, nem entregou grandes somas com intuito de receber algum suposto milagre em troca. O texto é claro, eles ofertaram conforme suas posses e Paulo mesmo se encarregou de fazer com que a oferta levantada chegasse a seu destino. Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém. Rm 15:25-26.

As igrejas em geral eram convidadas a participarem destes momentos de socorro aos irmãos. Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for. E, quando tiver chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes. Se convier que eu também vá, eles irão comigo. 1Co 16. 1-4

Percebam que mesmo utilizando uma tonalidade forte "fazei vos também, como ordenei as igrejas da Galácia" o Apóstolo não faz exigências absurdas, muito menos utiliza de subterfúgios enganosos no sentido de amedrontar o contribuinte. Depois, de alcançado o objetivo, o Apóstolo ainda faz um relatório detalhado do resultado obtido pela oferta levantada. Isto fala de transparência. Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. 2Co 8.1,2

Em nenhum momento encontramos o Apóstolo ou qualquer outro escritor biblico falando em coisas como DNA de sementes ou coisas do gênero. Ele fala em oferta voluntaria, e isso bastava. Paulo fazia questão de dizer que o ofertório deveria ser segundo a prosperidade de cada um. E volto a repetir, não encontramos nenhuma descrição de nenhum ser demoníaco que iria tragar as finanças de quem não contribuísse. Isto mesmo, nenhum tipo de maldição e nenhum tipo de promessa que alcançasse somente os contribuintes.

II. O USO DO DINHEIRO PELA IGREJA.
para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade. 1Tm 3:15

O que vimos até aqui parece ser muito simples e básico. Quando o cristãos pobre necessitava de assistência financeira, era o dinheiro arrecadado nas ofertas, que cumpriam tal objetivo. O dinheiro era utilizado para este fim, isto é: Acudir os pobres em suas necessidades. E, para que não houvesse qualquer tipo de engano ou erro,  pessoas certas eram escolhidas para tal administração. Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; At 6. 1-3

Em razão da importante tarefa a ser realizada, e que envolvia o manejo de somas em dinheiro, a igreja deveria escolher com cuidado os responsáveis para tal função. Tais escolhidos, deveriam ser pessoas possuidoras de  carácteristicas fundamentais. Deveriam ser:
Pessoas de Boa reputação. Isto é, pessoas dignas de confiança. Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro. Pv 22:1

Pessoas "cheias do Espírito Santo". Isto fala, entre outras coisas, de pessoas que realmente eram convertidas ao Senhor Jesus. Sem conversão não tem como alguém ser "cheio". Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo. At 13:52

Pessoas portadoras de Sabedoria. Sabedoria, aquí tem a ver com o caráter. Tem a ver com conhecimento, erudição. O equivalente em grego é "Sofía" que equivale ao saber. No sentido comum, a sabedoria é a qualidade que dá sensatez, prudência e moderação. Característica fundamentais para o desempenho de tal tarefa. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Pv 2:6

Além do ofertório atender as necessidades dos membros, o dinheiro arrecadado também era usado para o ensino do evangelho. Por isso a necessidade da boa administração. Assim, a igreja cumpria a missão dupla que ela tinha para com ela mesma que era a de atender seus membros em suas necessidades e ensiná-los as doutrinas fundamentais da fé cristã. Por isso não é surpresa que as igrejas do Novo Testamento usassem seu dinheiro também para espalhar e pregar o evangelho. Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. 1Tm 5:17

III. O DINHEIRO NOS NOSSOS DIAS. 
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, 2Pe 1. 3,4

A igreja do Novo Testamento realmente tinha muito a ensinar para as igrejas dos nossos dias, e a Bíblia registra tudo o que precisamos saber no que diz respeito ao serviço a Deus. Não precisamos ficar inventando coisas ou doutrinas para tentar melhorar o plano de Deus no que diz respeito a nossa prosperidade. O que precisamos é de homens e mulheres que assumam com respeito o cargo que lhes foi designado. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; Tt 1:7

Tito fala em seu tempo, de coisas que continuam acontecendo hoje. Fala de obreiros que por interesses próprios estavam pervertendo as verdades do Evangelho. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. Tt 1:11

Desta forma o modelo do Novo Testamento pode parecer até muito simples, e bem pouco sofisticado pois em nenhum momento fala de demônios com autoridade para agir contra aqueles que supostamente ignoram o ato de contribuir. Também não faz nenhuma menção de que alguma contribuição financeira deveria ser associada a supostas bençãos almejadas pelo contribuinte. Pelo contrário, os escritores do Novo Testamento não pouparam palavras no sentido de condenar obreiros que fraudulosamente estavam manipulando o dinheiro para satisfação própria.

Para pessoas que estão rodeadas por imensos empreendimentos multinacionais, isto pode parecer infundado, mas infundado mesmo é dizer que a oferta é uma semente que deverá brotar e frutificar em uma suposta benção desejada, quando na verdade estão pensando mesmo é em seu própro enriquecimento. Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Tt 1:15

O que nos ensina o Novo Testamento é que a igreja não temtpor missão juntar grandes somas de riquezas ou construir enormes organizaçõe. Nossa missão como igreja é simplesmente servir Jesus e mostrar ao mundo como fazer o mesmo. As igrejas cristãs não precisam competir com o mundo, mas precisam agradar a Deus. Por isso as igrejas que seguem o modelo do Novo Testamento poderão sim fazer arrecadação de contribuições voluntárias dos seus membros, mas não estão autorizadas a fazer disso um comércio. Em casos em que há irmãos pobres a igreja deverá ser capaz de ajudá-los e alimentá-los. Para isso serve o dinheiro que foi arrecadado e este dinheiro será dedicado à obra que Deus autorizou. Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. Jd 3,4

É muito cansativo ficar horas sendo obrigado a ouvir um apelo baseado em um monte de besteiras e insinuações mentirosas em relação a entrega de dízimos e ofertas. Malaquias quando falou que as pessoas estavam "roubando" quando deixava de entregar os dízimos e as ofertas, ele não estava falando com o povo igreja, ele falava com o povo judeu. Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais a mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastada. Ml 3. 8

Mesmo que Malaquias estivesse falando a igreja, pois não estava, observe o destino que o Espírito Santo estava dando ao dinheiro arrecadado. "para que haja mantimento na minha casa". Por qual razão deveria haver mantimento na casa de Deus? Deus não se alimenta como nós! Então observemos a tradução da Bíblia a Mensagem do texto de Malaquias: “Comecem pela honestidade. Pessoas honestas roubam a Deus? Mas vocês me roubam dia após dia. “Vocês perguntam: ‘E como temos te roubado?’. “Nos dízimos e nas ofertas, é dessa forma. E vocês estão debaixo de maldição, todos vocês, porque estão me roubando. Tragam o dízimo completo para o tesouro do templo, para que haja ampla provisão na minha casa. Ponham-me à prova, e vejam se não vou abrir o próprio céu para vocês e derramar bênçãos além dos seus sonhos mais improváveis. No que depender de mim, vou defender vocês contra os saqueadores e proteger seus campos e hortas contra os ladrões”. É a Mensagem do Senhor dos Exércitos de Anjos. 
Ml 3:8-11 - Biblia A Mensagem.

Agora imaginem que este texto tenha sido escrito para a igreja, e não para os judeus. Tragam o dízimo completo para o tesouro do templo, para que haja ampla provisão na minha casa. Provisão. Mas que provisão é esta? Para quem está provisão? E neste ponto que vem toda nossa indignação. Pois tomam um texto do Antigo Testamento que não tem nenhum apoio no Novo Testamento. Aplicam para a igreja e o transformam em um verdadeiro compêndio de maldições.
O texto de Malaquias começa mexendo com a integridade de muitos líderes. A versão da Bíblia a Mensagem é enfática: Comecem pela honestidade. Honestidade talvez seja exatamente o que está faltando em muitas igrejas. Pessoas honestas administram com honestidade, mas pessoas desonestas administram com o erro. E que pena que existam tantos em nosso meio administrando assim. Porque tanta gente passando necessidade e até fome enquanto muitos líderes desfilam em carros luxuosos, e moram em verdadeiras mansões. O pior, fazem isso com o dinheiro que arrecadam na igreja.

Este é o tipo de mensagem que sei, nunca me deixarão pregar em nenhum púlpito na igreja, porque fere a intimidade de muita gente. Talvez o Mural da Bíblia seja um dos poucos lugares onde uma postagem nesse gênero ainda possa ser encontrada. Nos resta a parte final do texto de Malaquias 3.8 que nos enche de gozo e confiança no Deus que falou para os judeus, mais que de forma semelhante prometeu para nós a igreja. Ponham-me à prova, e vejam se não vou abrir o próprio céu para vocês e derramar bênçãos além dos seus sonhos mais improváveis. No que depender de mim, vou defender vocês contra os saqueadores e proteger seus campos e hortas contra os ladrões”. É a Mensagem do Senhor dos Exércitos de Anjos.

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