Ap 18:11-13 NAA
E, por causa dela, choram e pranteiam os mercadores da terra, porque ninguém mais compra a sua mercadoria, mercadoria de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho finíssimo, de púrpura, de seda, de escarlate; e toda espécie de lomadeira odorífera, todo gênero de objeto de marfim, toda qualidade de móvel de madeira cara, de bronze, de ferro e de mármore; e canela de cheiro, especiarias, incenso, perfume, mirra, vinho, azeite, boa farinha, trigo, gado e ovelhas; e de cavalos, de carruagens, de escravos e até almas humanas.
Introdução. O texto de Apocalipse escolhido para hoje, nos direciona a duas realidades onde somos capazes de encontrar uma identificação de coerência e validade bastante peculiar entre ambas. O texto começa nos apresentando o que o escritor chama de “mercadores”, homens cuja especialidade seria a de negociar gêneros, bens ou mercadorias. Na sequência o mesmo texto descreve algo que podemos entender como sendo os bens negociáveis desses “mercadores”, ou seja, suas "mercadorias". Assim, parece que o texto de Apocalipse consegue nos colocar num ambiente muito confortável no sentido de entendimento daquilo que o escritor está tentando nos descrever… Porém, quando chegamos no finalzinho do verso 13 o escritor nos surpreende ao acrescentar em sua lista de “mercadorias” algo muito diferente de tudo apresentado até então…. Ele acrescenta algo descrito como "...almas humanas."
Todo o contexto seguiria uma sequência bem prática e razoável, não fosse esse final intrigante em que tal descrição é acrescentada…
Então vejamos… na descrição os "mercadores" por alguma razão estão em um estado de desconforto onde nós e dito que eles estão chorando e pranteando… A razão de todo este desconforto, parece está no fato de que, por alguma razão as suas mercadorias, apesar de toda qualidade, estão sendo rejeitadas. "ninguém mais compra a sua mercadoria" diz o escritor.
Ou seja, o resultado consiste em uma demanda de prejuízo que parece ser muito grande para o mercador.
O escritor prossegue sua curiosa descrição relacionando sequencialmente toda a mercadoria rejeitada… ouro, prata, pedras preciosas etc, etc e etc… Tudo mercadoria de alto padrão e muita qualidade, entendidos como bens negociáveis e por certo produtos bastante lucrativos…
A exceção aparece exatamente quando chegamos no último item ou na última mercadoria apresentada… "almas humanas". Algo muito diferente de tudo apresentado ao ponto de acrescentar um certo apelo ao iniciar sua apresentação com a expressão “e até…” indicando haver por certo uma enorme diferenciação em relação às demais mercadorias até então relacionadas…
No texto contudo não existe uma preocupação em revelar como seria a exposição ou negociação de “isto” que o escritor chama de “alma humana”. E muito menos deixa transparecer qualquer entendimento desta que é uma mercadoria bastante estranha…
Assim, antes de qualquer coisa seria bom buscarmos um entendimento, mesmo que básico do que o texto Bíblico chama de “alma”… Afinal, temos um tema a ser desenvolvido e um texto de Apocalipse para balizar nosso direcionamento…
I. ALMA HUMANA
Sl 49:7-8 Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate — pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre.
A palavra "alma" vem de um termo latino “animu” ou “anima” que nos remete ao entendimento do seu significado: "o que anima". A noção é de que o termo "alma" pode ser usado para explicar, entre outras coisas, a complexidade da vida humana e a articulação das diversas funções que lhes são vitais.
O correto entendimento nos direciona a pontos relacionados a extensão da vida humana em toda sua complexidade. Algo como nossa parte imaterial, o sopro vital capaz de animar o nosso corpo nos munindo de afetos, sentimentos e paixões.
Para entendimento do que vimos até aqui, nós vale a descrição do Salmos 42.11 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus.
Na descrição do salmista, o que se abate ou se perturba dentro de nós é o que chamamos de “alma”. Sendo ela mesma capaz de se condicionar a um estado de confiança ou espera.
João Calvino, o fundador do calvinismo, defendeu que o espírito e a alma são distintos, e que ambos são imortais. Segundo Calvino, a alma pode perder-se, ser salva e existir mesmo após a morte do corpo.
E sendo ela citada como a fonte de todas as nossas sensações e sentimentos, ela pode ser a responsável inclusive pela nossa capacidade de comunhão com Deus.
Seguindo ainda a base do entendimento de Calvino podemos ainda descrever a alma humana como o centro vital de nossa vida, ou seja não existe vida sem alma…
Mas se não existe vida sem alma, porque parece que nós estamos tão pouco preocupados com isto que chamamos de alma humana?
Talvez a razão esteja no fato de que “parece” ser bem mais saudável nos preocupamos um pouco mais em satisfazer os desejos do nosso corpo do que entender os conceitos básicos de nossa alma.
Talvez isso aconteça porque não percebemos que o corpo é a nossa parte mortal e que um dia, inevitavelmente, ele se encontrará com a morte, e tudo que se refere a ele, no que diz respeito a vida humana vai também, inevitavelmente acabar… mas o que dizer em relação a alma?
E se Calvino está certo, e ao que nos parece ele está, a nossa alma por ser imortal, de alguma forma ela vai continuar a existir em algum lugar na eternidade. E nos parece que é exatamente este o maior problema…
Pois se a alma continuará a existir depois da morte, a pergunta que não pode querer calar é… onde exatamente a nossa alma continuará sua existência?
É exatamente neste contexto que deveremos caminhar para entendermos e finalizar a nossa mensagem de Ap 18.13
II. NOSSA FORMAÇÃO E NOSSA CONSTITUIÇÃO.
1Ts 5.23 Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo
A primeira coisa a entender é que temos uma formação que podemos chamar de “dicotômica”. Isto é, Deus nos formou em condições de homens carnais e homens espirituais. Nesta condição o corpo se define como a parte da nossa formação que vai interagir com o mundo exterior… Uma vez vivos, nosso corpo se comunica com tudo que está a nossa volta…
Nesta formação nossa alma e o nosso espírito são inseparáveis e condicionam espiritualmente a nossa formação. Por isso a Bíblia chama esta parte de “homem espiritual”. Sendo esta parte da nossa formação que nos capacita a nos colocarmos em contato com a Pessoa de Deus e ao mesmo tempo em contato com o mundo através dos nossos sentimentos.
A nossa formação sendo “dicotômica” se constitui de espirito/alma e corpo. O espírito e alma são citados como sendo uma só parte desta formação.
Já quando falamos da nossa constituição, pode dizer que somos “tricotômicos” , isto é, fomos criados constituídos de três partes, espírito, alma e corpo. E nessa constituição alma e espírito estão separados assim como o corpo o é na formação. Por isso dizemos que na constituição somos “tricotômicos” , isto é, partidos em três. 3Jo 2 Amado, peço a Deus que tudo corra bem com você e que esteja com boa saúde, assim como vai bem a sua alma.
Vamos tentar entender isto:
1. NOSSO ESPÍRITO.
Amado, peço a Deus que tudo corra bem com você…
O espírito é nossa vida propriamente dita. Só estamos vivos enquanto temos o espírito habitando em nós. Desta forma é certo entender o corpo como nossa parte auto depende do espírito para se manter vivo. Não importa o que aconteça ou como acontece a morte do corpo… Sempre, não importando a causa haverá a separação do espírito.
2. O NOSSO CORPO.
…que esteja com boa saúde,
O corpo, como vimos é a parte da nossa formação ou constituição capaz de nos colocar em contato direto com as coisas terrenas. No corpo estão os nossos quatro sentidos, nossa visão, nossa audição, o olfato e o paladar. Estes sentidos são responsáveis pela interação entre nós os seres humanos e tudo o que diz respeito à constituição terrena e carnal… estes sentidos do corpo somente podem ser manifestos enquanto estamos vivos…
3. A NOSSA ALMA.
assim como vai bem a sua alma.
Por fim temos a nossa alma. Deixei ela por último de propósito exatamente por ser ela o foco da nossa preleção desta noite. Sendo o corpo nossa parte mortal, o espírito nossa vida propriamente dita, a alma pode ser vista como aquela parte capaz de intermediar entre o corpo e o espírito.
A alma, desta forma é a parte da nossa constituição que consegue se posicionar entre nossa parte carnal e nossa parte espiritual. Ela tanto pode nos condicionar a nos aproximar de Deus, como nos afastar dele… O espírito é a parte que tem comunhão com Deus e a alma é a parte que torna essa comunhão uma experiência pessoal, individual. Nosso corpo nos coloca em condição de interagir no mundo em que vivemos e a nossa alma constituirá o corpo desta capacidade de sentir o mundo.
Este ponto importante nos posiciona a entendermos a nossa alma como constituinte da parte imaterial da nossa vida propriamente dita, isto é, como o sopro vital capaz de animar o nosso corpo e produzir em nós afetos, sentimentos e paixões.
Em resumo, estamos vivos em razão do espírito que habita dentro de nós. E, nessa condição de vivos a nossa alma nos coloca em interação com o mundo propriamente dito nos condicionando a interagir com tudo e todos que estão à nossa volta. Desta forma, o nosso corpo é a nossa parte que interage com o mundo em que fomos criados, mas completamente dependente do espírito e da alma.
Na morte, o espírito e a alma são retirados do corpo e seguem para um destino de eternidade, por um tempo sem ele. Um tempo, porque no arrebatamento o corpo é ressuscitado e entregue novamente ao homem.
A questão então é: Onde é a eternidade? Ou onde acontecerá e como será essa eternidade?
III. O PREÇO
Não foi com coisas corruptíveis como prata ou ouro que fomos comprados da nossa vã maneira de viver…
O texto de Apocalipse 18 começa com a proclamação de um anjo anunciando a queda de um império que no mesmo texto é descrito com adjetivos bastante ruins como: morada de demônios, refúgio de espíritos imundos e lugar onde as nações beberam o vinho da sua prostituição. Em seguida o texto menciona um povo sendo convidado por Deus a sair da Babilônia em razão da preste destruição que háveria de vir sobre a mesma. No verso 10 encontramos a expressão: "Ai, ai de você, grande cidade, Babilônia, cidade poderosa! Pois em uma só hora chegou o seu juízo". Agora depois desta proclamação encontramos a razão da tristeza e do choro dos então "mercadores" e talvez possamos concluir finalmente nossa análise…
Nossa alma, sendo imortal, como vimos, terá de, um dia, encontrar-se com a eternidade e a morte é a maneira como se dá o início a este processo, e como vimos, a morte… acontece apenas com a parte nossa que chamamo de corpo. Hb 9:27 E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo,
Babilônia, no texto talvez, possa ser entendida por uma vida sem Deus… uma vida segundo o curso deste mundo.
Ef 2:1-2 …vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência.
A alma, como vimos, sendo aquela parte que pode intermediar entre o corpo e o espírito. Então será sempre através dela que faremos as nossas escolhas para o bem ou para o mal… Por uma vida com Deus ou sem Ele…
E neste contexto, encontramos o texto de Apocalipse nos convidando a “abandonar a Babilônia”... Podemos entender que o texto nos convida ou direciona a uma oportunidade de mudança do curso da nossa vida enquanto vivos…, e consequentemente a mudança do nosso destino final com Deus ou sem Ele, por toda a eternidade… Ef 2:4-6 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça vocês são salvos — e juntamente com ele nos ressuscitou e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus.
A nossa alma, unida ao nosso espírito, compondo a parte imaterial da nossa vida… o sopro vital que anima o nosso corpo, produzindo em nós afetos, sentimentos e paixões nos condiciondo a um relacionamento… que pode e deve ser direcionado a Pessoa do Senhor Jesus Cristo, o texto é muito enfático… pela graça vocês são salvos. Salvação aqui é a condição de vivermos nossa eternidade com Deus, segundo a nossa escolha, mesmo que, se com nossa vida, por muito tempo cumprimos os adjetivos ruins descritos no texto de Apocalipse como morada de demônios, refúgio de espíritos imundos e lugar onde as nações beberam o vinho da sua prostituição. Ef 2:12-13 Naquele tempo vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados pelo sangue de Cristo.
Agora temos a oportunidade de vivermos segundo as palavras de Paulo…
Gl 2.19,20 Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.